" Na quarta-feira de cinzas, a sede do Grupo Dramático Musical na Chamusca, encheu-se de gente para se cumprir a tradição do Enterro do Galo. Um cerimonial que marca o fim do Carnaval com a leitura do testamento do galináceo feito em versos de crítica e mal-dizer. Os tradicionais organizadores, a acusarem o desgaste da velhice, não compareceram à função. Os mais novos foram deixando andar o barco mas, à última hora, lá apareceram meia dúzia de voluntários, comandados pelo galo, Luís Garrido, o padre, Carlos Condeço e o sacristão, Rui “Pesseguinha”, e à meia-noite fez-se a festa.
Os acontecimentos “marcantes” de um ano de vida na vila, foram contados quadra a quadra, com muito picante à mistura. Um testamento do galo muito generoso que pôs as orelhas a arder a alguns “herdeiros”. A viúva e as carpideiras riam em vez de chorarem e entre a assistência a galhofa também foi geral com todos a tentarem adivinhar o nome dos visados nas quadras.
No Carnaval ninguém leva a mal, é o lema. E quem não quiser andar nas bocas do mundo, nem figurar no testamento do galo é melhor que se porte bem, porque os olhos do povo vêem bem... e quando não vêem inventam!
Aqui fica uma amostra do testamento do Galo, lido no seu enterro.
Foi uma grande dificuldade
Um padre arranjar
Os mais velhos estão reformados
Ninguém cá quis vir parar
Já não há bailes no União
Os do Grupo estão para acabar
O enterro do galo em breve
Vai passar a ser feito no lar
Aquilo era só amor
Uma paixão assolapada
Quando se acabou o “papel”
Só faltou haver chapada
É só cargos de chefia
Onde é que isto vai parar
Qualquer dia há mais chefes
Do que gente a trabalhar
O senhor ex-deputado
Com o seu sorriso de artola
Para fugir aos credores
Diz-se que vai para Angola
Esta vila está com alma
E com grande coração
Mas com esta crise toda
Será que há Ascensão?
Foi vê-los numa azáfama
Carros para trás e para a frente
Mal se viam os bois
No meio de tanta gente
Na política local
Continua a confusão
A maioria vota
A favor da oposição"
Fonte: O Mirante Diário online
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